Sênior Living: um lugar para viver
Caio Calfat, vice-presidente de Assuntos Turístico-Imobiliários do SECOVI-SP, fundador e diretor-geral da Caio Calfat Real Estate Consulting
Imagine um empreendimento imobiliário planejado desde a arquitetura até os serviços superespecializados, com base em acessibilidade, conforto, segurança, qualidade de vida e estímulo à independência dos moradores com mais de 60 anos — tudo isso aliado à oferta de saúde integrada e atividades sociais.
Já bem estabelecido no exterior, o modelo de Sênior Living começa a ganhar tração no Brasil e se mostra promissor diante da mudança da pirâmide etária e da expectativa de vida da população: de acordo com dados atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2010 e 2022, o número de brasileiros com 60 anos ou mais saltou 52%, ultrapassando 32 milhões de pessoas. A expectativa de vida média atual está em 75,7 anos, e a projeção para os próximos quatro anos indica que 35% da população terá mais de 60 anos.
Esta é uma população que envelhece e exige novas respostas em diversos setores sociais e econômicos nos quais estão inseridos, incluindo o mercado imobiliário, com a demanda efetiva de moradias pensadas (e não adaptadas) para a terceira idade, com rampas, corredores largos, banheiros adaptados e espaços de socialização, entre alguns dos diferenciais. Esse tema foi amplamente debatido em 2023, com o primeiro – e único – estudo que comandei, a partir da Caio Calfat Real Estate Consulting e ao lado da Brain Inteligência Estratégica. O objetivo era traçar um panorama baseado em análises nacionais e internacionais, além de pesquisas com o público, para obter respostas e proposições para demandas e dores que incluem solidão, insegurança, ausência de estímulos e dependência familiar.
Entre as quase 500 famílias entrevistadas, 29% afirmaram ter parentes em casas de repouso e 30% os mantêm em casa, administrando uma série de cuidados especiais. Entre a parcela que vive em casas de repouso, a maioria (66%) permanece na instituição por 24 horas, todos os dias da semana. Uma parcela de 18% fica 24 horas no local, mas passa os fins de semana em casa, enquanto 13% passam o dia na casa de repouso, mas dorme com a família. Apenas 3% dos entrevistados informaram ter idosos que passam o dia em casa com a família e dormem em casas de repouso.
Os principais motivos apontados pelas famílias para colocar seus parentes em casas de repouso são a falta de disponibilidade para dedicação exclusiva ao idoso (36%), a falta de estrutura na residência (20%) e a dificuldade em encontrar cuidadores (17%). Entre as dificuldades apontadas pelos entrevistados na escolha de uma casa de repouso, a estrutura adequada e adaptada aparece em primeiro lugar, com 34% das menções, seguida pelo valor da mensalidade (18%) e pelo receio de que a pessoa seja mal atendida na instituição (17%).
Hoje, menos de dois anos depois, começamos a ver o surgimento de uma geração de empreendimentos que aliam hospitalidade, autonomia e bem-estar: já são realidade no Rio Grande do Sul, em São Paulo e em Santa Catarina, por exemplo. E, com o avanço dos projetos e a consolidação do conceito no Brasil, a tendência é que mais empresas se interessem pelo setor e que os sênior livings se tornem parte do portfólio de soluções imobiliárias voltadas à longevidade com dignidade.
O fato é que o conceito e os projetos que vão surgir vieram para ressignificar a moradia de idosos no País, trazendo boas perspectivas para essa parcela da população nos próximos anos.
Afinal, as pessoas chamam casa de repouso de um lugar para morrer. No sênior living, nós queremos que elas digam que é um lugar para viver, com protagonismo e respeito ao envelhecer.
Fonte: Turismo Compartilhado