Valor Econômico | Casa de praia compartilhada ganha força no mercado

Com residências sofisticadas em destinos badalados do litoral do país, novos projetos oferecem modelos distintos de propriedade e focam na otimização do investimento

O sofisticado Casa Búzios, no litoral fluminense, oferece a opção de segunda residência de luxo em praias paradisíacas por uma fração do custo. Esse nicho do mercado democratiza e estimula a criação de destinos turísticos nacionais — Foto: CASA BÚZIOS/DIVULGAÇÃO

Passar as férias na praia é o desejo de 70% dos brasileiros, segundo pesquisa publicada por uma plataforma de reserva hoteleira. E, se essa experiência estiver associada a uma casa à beira-mar para curtir com a família

e receber os amigos, tanto melhor. Pois esse sonho tem se tornado cada vez mais possível, sofisticado e economicamente eficiente com o crescimento do mercado de compartilhamento de segunda residência no litoral do país.

Destinos turísticos famosos, como Búzios (RJ), Praia do Forte (BA), Maragogi (AL) e Porto de Galinhas (PE), têm empreendimentos novos que apostam no modelo de multipropriedade ou de sociedade imobiliária. A vantagem está em poder usufruir de casas luxuosas, assinadas por arquitetos renomados, em praias paradisíacas e com serviço de hotelaria cinco estrelas a um custo financeiro e administrativo muito menor do que os proprietários únicos costumam ter.

Na orla eternizada por Brigitte Bardot nos anos 1960, a incorporadora STX lançou o Casa Búzios: um loteamento com residências projetadas pelo arquiteto Davi Bastos, que serão entregues mobiliadas e equipadas a partir de 2025, com mais de 30 itens de lazer.

“Beach club” privativo, assinado pelo colombiano Simón Vélez, spa, piscina, bar, restaurante e cinema são alguns diferenciais que os clientes poderão usufruir, além de campo de golfe, marina e aeroporto vizinhos ao condomínio, dentro do bairro planejado Aretê. O projeto ocupará uma área de 133 mil metros quadrados — 82 mil deles serão preservados, com boa parte composta por uma bacia de captação de água da chuva e vegetação de restinga de Mata Atlântica.

As cotas para duas semanas partem de R$ 72 mil no bangalô de uma suíte, a R$ 192 mil, no de quatro suítes. É possível adquirir qualquer das opções de habitação de forma exclusiva, e o cliente pode trocar seus dias por outra propriedade com a intercambiadora internacional RCI.

 

com residências de lazer como essa na Praia do Forte (BA), a My Door aposta na sociedade patrimonial para atender clientes de alta renda — Foto: MY DOOR/DIVULGAÇÃO

 

“É uma compra inteligente. Uma possibilidade de os brasileiros terem sua casa de veraneio nessa joia do litoral, o quinto destino mais visitado do país, famoso pela gastronomia e com infraestrutura de uma cidade”, afirma o presidente da STX, Marcelo Conde.

ESTÍMULO AO TURISMO

Voltados para a classe média, os futuros projetos da GAV Resorts em praias como Maragogi (AL), Pipa (RN) e Porto de Galinhas (PE) estão em ritmo acelerado de vendas e construção.

O Porto Alto Resort, com 395 apartamentos na Praia de Muro Alto (PE), foi todo vendido em 13 meses. Seu sucesso comercial levou ao lançamento de outro empreendimento ao lado, o Porto 2 Life, já com 65% dos 990 estúdios e dois quartos comercializados.

“Lançamos Maragogi em julho, e 45% já foram vendidos. As pessoas estão entendendo melhor o valor desse modelo de negócio e podem conhecer praias que, se dependessem da hotelaria tradicional, não conseguiriam”, avalia o CEO da GAV, Manoel Pereira. “A multipropriedade é mais acessível e ajuda a criar e a desenvolver mais rapidamente destinos turísticos em todo o país”, diz o executivo. O preço médio das cotas da GAV fica em torno de R$ 50 mil.

A empresa imobiliária My Door escolheu um modelo jurídico diferente para atuar no segmento. Cada uma das 24 propriedades do portfólio atual foi adquirida por uma empresa criada com essa finalidade e tem de dois a oito sócios. “É uma sociedade patrimonial em que cada sócio tem direito de usar a residência de lazer conforme a cota de ações que possui”, explica o CEO e cofundador da My Door, Roberto Pinheiro. O fracionamento é determinado por fatores como a localização do imó- vel. Casas em praças distantes tendem a ter mais sócios por seu uso menos frequente.

 

GAV Resorts quer criar sensação de hotelaria de luxo em apartamentos compartilháveis para a classe média brasileira — Foto: GAV/DIVULGAÇÃO

 

Segundo Pinheiro, parte da clientela é formada por grupos de amigos ou familiares que procuram um imóvel para compartilhar. “Compramos, criamos a estrutura jurídica e depois cuidamos dos agendamentos de datas, da manutenção e da administração”, diz. O valor das cotas das mansões de praia da marca, em destinos como Praia do Forte e Trancoso (BA), Baleia e Juquehy (SP) e Marceneiro (AL), vai de R$ 425 mil a R$ 1,8 milhão — no caso do combo de casa com barco compartilhado.

EXPANSÃO

Dados do último relatório “Cenário do desenvolvimento de multipropriedades no Brasil — 2023”, elaborado pela Caio Calfat Real Estate Consulting, revelam a existência de 180 empreendimentos à venda em 81 cidades de 19 estados brasileiros. Desse total, 104 integram o chamado “mercado corrente”: aqueles prontos com menos de cinco anos de operação e vendas inferiores a 95% do total da oferta.

A Região Nordeste, dona do maior litoral do país, contava com 24 condomínios com esse perfil até abril do ano passado e liderava o mercado nacional com 6.155 unidades habitacionais — alta de 3,8% em relação a 2022 —, divididas em 186.719 frações (+13,4%). O valor médio da fração também aumentou 13,7%, chegando a R$ 61 mil.

Na percepção de Caio Calfat, a queda sequencial da taxa de juros da economia brasileira tende a incentivar incorporadores a lançar produtos nessa categoria. “A multipropriedade de luxo é um nicho em expansão no litoral. Nossa expectativa é de crescimento de 15% a 20% para o próximo ciclo, que se encerra em abril”, informa.

Fonte: Valor Econômico