Multipropriedade cresce e aprimora modelo no país

VGV do segmento cresceu 16,6% no último ano, ganhou novos projetos e adotou estratégia inédita para captação de clientes

Mais maduro e sofisticado, segmento de multipropriedade no país registrou aumento no VGV no período de 12 meses. No detalhe, o empreendimento Casa Búzios, no litoral do Rio, aposta em espaço de experiências para atrair clientes - Foto: GRUPO ST/DIVULGAÇÃO


O mercado de multipropriedade cresceu 16,6% em VGV no país entre abril de 2024 e o mesmo mês deste ano, alcançando R$ 92,6 bilhões. O segmento chegou a 216 empreendimentos — 16 a mais do que no período anterior — representando 42,5 mil unidades habitacionais e 1,2 milhão de frações.

Os dados constam do relatório “Cenário do desenvolvimento de multipropriedades no Brasil — 2025”, produzido pela Caio Calfat Estate Consulting, e foram debatidos durante a 13ª edição do Adit Share, evento realizado em Foz do Iguaçu (PR) neste mês.

Os imóveis estão distribuídos agora em 97 cidades, ante 89 do período anterior. A Região Sul lidera com 68 operações. Nordeste (63) e Sudeste (51) vêm em seguida. No país, o valor médio da fração está em R$ 75,9 mil.

Para Caio Calfat, diretor da consultoria, o segmento não tem crescido apenas em volume de negócios, como também vem ganhando maturidade, refletida na mudança de estratégia de captação de clientes. “A abordagem de turistas em ruas e restaurantes não é o caminho ideal, e alguns incorporadores estão percebendo isso e buscando um ‘lead’ qualificado, ainda que seja uma jornada mais lenta”, analisa Calfat.


A tática que começa a surgir, sobretudo nos empreendimentos voltados ao público de alta renda, é a criação de experiências que possam gerar desejo no cliente. Em Búzios (RJ), o Grupo ST construiu um estande repleto de atrações para atrair interessados ao Casa Búzios, um condomínio de casas compartilhadas assinado pelo arquiteto David Bastos, vendidas em cotas a partir de R$ 120 mil.

“Nosso espaço tem minigolfe, um lago cristalino para mergulho e um ‘snack bar’ do restaurante Rocka, famoso na cidade. Virou atração turística, onde as pessoas vêm e acabam conhecendo nosso projeto”, explica Marcelo Conde, CEO do Grupo ST.

O Casa Búzios fica no bairro planejado Aretê, vizinho à marina do balneário e à futura piscina de ondas que está sendo construída na região — a maior do Hemisfério Sul. O projeto tem residências de duas a cinco suítes, centro de “wellness”, mais de 30 atividades de lazer e um “beach club” na Praia de Manguinhos.

Calfat ressalta que a experiência do cliente tem sido aprimorada para o pós-venda com benefícios para quem já adquiriu sua fração. É o caso da empresa Prime You, que vende cotas de mansões associadas a barcos de luxo. “Essa é uma novidade no mercado. Temos acompanhado projetos em Angra dos Reis e Salvador, onde o comprador pode incluir em sua cota o uso de iates”, informa.


EXPANSÃO

Entre as novidades, o segmento ganhou um projeto em Campos do Jordão (SP) — o Gran Paradiso Resort —, entregue em abril com 130 apartamentos e 13 bangalôs, piscinas coberta e descoberta, restaurantes, academia profissional, boliche e “wine bar”, na região da Minalba.

“Estamos a 1,7 mil metros de altura, com vista livre para as montanhas e uma infraestrutura de lazer completa para entreter os clientes. Campos do Jordão é um destino consolidado, com atrações e serviços, o que é fundamental para o negócio da multipropriedade”, explica Luciano Dutra, sócio-diretor da Somah Construção e Incorporação, responsável pelo empreendimento.

O Gran Paradiso Resort está com 60% das cotas já vendidas a partir de R$ 93 mil por fração, o que dá direito a duas semanas de uso por ano. O empreendimento é parceiro também da intercambiadora RCI e oferece um “pool” de administração hoteleira para quem tiver interesse em alugar sua cota.

Em operação similar ao multipropriedade, a MyDoor adquire casas de luxo para férias via sociedade patrimonial, que podem ser compartilhadas por até oito sócios. A empresa se encarrega da reforma, decoração, mobiliário e utensílios, bem como da limpeza e da manutenção do imóvel. Um serviço de concierge cuida de personalizar a estadia para cada coproprietário.


Com 35 residências no portfólio, a MyDoor registrou aumento de 70% no número de cotas vendidas entre janeiro e abril deste ano, na comparação com o mesmo período de 2024. “O crescimento deve-se à mudança no comportamento de consumo das pessoas. O compartilhamento já é uma tendência em diversos setores e está chegando ao mercado de imóveis de lazer”, afirma Roberto Pinheiro, fundador e CEO da MyDoor, acrescentando que esse cliente busca flexibilidade, inteligência financeira, conforto e experiências únicas, que reflitam seu estilo de vida.

A propriedade mais recente da marca fica na Praia de Juquehy, litoral norte paulista. A Casa Villa Del Mar 2 tem 140 metros quadrados e três suítes, com fração a partir de R$ 450 mil. Outra novidade é o MyDoor Club: um clube de assinatura de segunda residência que funciona por meio de contratação anual.

O associado paga uma mensalidade e recebe créditos para utilizar em reservas de casas do portfólio, inclusive em cidades no exterior, como Miami e Orlando, nos Estados Unidos, e Paris, na França. “Estamos levando o modelo para onde os brasileiros querem estar, com a mesma qualidade de curadoria e experiência que já oferecemos no Brasil”, diz Pinheiro.


Fonte: Valor Econômico