Cresce oferta de prédios exclusivos para a população mais velha; entenda como funcionam

Incorporadoras de alto padrão lançam projetos que incluem programa de longevidade, mas segmento ainda é incipiente no País

LOMA Pedra Branca by DOM Senior Living recebeu investimento de R$ 70 milhões e está em construção na cidade de Palhoça, em Florianópolis Foto: Divulgação/DOM Senior Living

Acompanhando a alta da expectativa de vida dos brasileiros, incorporadoras começam a desenvolver projetos exclusivos para idosos. Com a oferta de serviços específicos e adaptações na arquitetura, esses empreendimentos se espalham pelo País para atender a demanda de um público de alta renda e movimentar cifras milionárias.

Em construção na cidade de Palhoça, região metropolitana de Florianópolis, o LOMA Pedra Branca by DOM Senior Living terá 110 unidades, mas apenas pessoas com mais de 60 anos poderão morar. O prédio terá apartamentos de 35 a 90 metros quadrados e é resultado de uma parceria entre a incorporadora Hurbana e a DOM Senior Living, empresa de gestão de residências sênior de alto padrão.

Com investimento inicial de R$ 70 milhões, o residencial tem entrega prevista para 2026 e se apoia na promessa de garantir bem-estar aos moradores na terceira idade. Desta forma, os principais diferenciais vão além da infraestrutura com academia, spa, piscina térmica e até um restaurante. “O empreendimento precisa olhar para a esfera biossocial dos inquilinos”, diz Renata Stringhini, CEO e fundadora da DOM Senior Living.

Ao se mudar para o edifício, o morador passa por uma avaliação e se integra a um programa de longevidade, desenvolvido por um médico, um fisioterapeuta, um psicólogo e um terapeuta ocupacional. A partir daí, começa a ter a saúde monitorada e é incentivado a participar de iniciativas disponibilizadas pelo próprio condomínio, como atividades físicas e ações de estímulos à memória.

Entre essas ações estão oficinas, passeios e eventos planejados para integrar os residentes. O LOMA conta, ainda, com serviços de home care, sistema de administração de medicamentos, ambientes monitorados com sensores inteligentes, ambulatório e equipe de saúde preparada para emergências.

“Se uma pessoa vem morar com a gente com 80 anos, a chance dela viver até os 100 é enorme. Queremos encher esses 20 anos de propósito”, afirma Stringhini. Todo esse cuidado, no entanto, exige um investimento elevado. O pacote básico na LOMA Pedra Branca by DOM Senior Living, que inclui o aluguel do apartamento de 30 m², o condomínio e os serviços, começa a partir em R$ 11.900.


Economia prateada

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil já é a sexta nação com mais idosos no mundo. Dados do Censo revelam que, de 2010 a 2022, o número de brasileiros com 60 ou mais saltou 52% e chegou a aproximadamente 33 milhões. Atualmente, a expectativa de vida do brasileiro é de 75,5 anos, mas a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que, daqui a 45 anos, os idosos sejam mais de 35% da população.

Na esteira da mudança na pirâmide etária, a chamada “economia prateada” tenta combater um sentimento comum aos mais velhos: a solidão. “É um problema ainda mais acentuado em grandes metrópoles, onde as pessoas têm dificuldades para sair de casa”, contextualiza Martin Henkel, CEO da consultoria SeniorLab. “Nesses novos empreendimentos imobiliários, existe uma grande preocupação em estimular a independência”, comenta.

“Já consolidado nos Estados Unidos, o mercado de senior living está crescendo no Brasil. São pessoas que, ao envelhecer, preferem morar nestes residenciais do que ir viver com os filhos, por exemplo”, ilustra. Henkel aponta que os preços variam conforme o nível de dependência dos idosos e a importância dos serviços assistenciais a sua rotina.

Idosos muito dependentes, portanto, tendem a pagar mais do que idosos que não precisam de tanto auxílio. “O preço do aluguel em uma moradia sênior começa em R$ 5 ou 6 mil e pode chegar a até R$ 30 mil por mês, a depender dos serviços contratados”, diz. Em meio a uma revolução do setor, a própria arquitetura é alvo das mudanças.

Arquitetura adaptada

Enquanto asilos e casas de repouso tradicionalmente são instalados em casas adaptadas, estes empreendimentos já são construídos com adaptações para o público de terceira idade. Entre elas estão a construção de mais rampas para cadeiras de rodas, salas para instalar equipamentos de saúde e abrigar a equipe médica, corredores mais largos, banheiros maiores, ajustes na altura das prateleiras e novos espaços para encontros.

A arquiteta Flávia Ranieri, especializada no segmento, afirma que os cuidados vão desde a curadoria de mobiliário seguro e confortável até a escolha de sinalizações de alta legibilidade, iluminação noturna pensada para evitar quedas e espaços que favorecem o dia a dia. “Hortas, varandas com jardineiras, salas de leitura, áreas silenciosas para contemplação e ambientes para receber amigos e familiares fazem parte da proposta”, sugere.

Por outro lado, é importante que os projetos incentivem o movimento. O consultor Caio Calfat afirma que é importante criar alternativas para o residente se manter ativo. “O quarto deprime. Quanto mais atividades este idoso tiver para fazer fora do seu quarto, melhor”, justifica.

Calfat participa do desenvolvimento da linha sênior da incorporadora ABF Developments em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Lançado em 2020, o Magno Três Figueiras se apresenta como primeiro residencial sênior living do Brasil e está em operação desde abril de 2025. “É um produto novo. O arquiteto, o incorporador e os compradores ainda precisam se adaptar”, comenta o executivo.

O segundo empreendimento da linha está sendo construído no bairro Moinhos de Vento, com previsão de entrega para o segundo semestre de 2026. O Magno Menino Deus, terceiro projeto da marca para este perfil, foi apresentado em abril e tem conclusão estimada para 2027. “Ainda estamos descobrindo como vai se desenrolar, mas é um mercado imenso e cada vez mais empresas se interessam pelo setor”.


Novas marcas

Um dos símbolos deste interesse é a parceria entre a Housi e Vitacon para o lançamento de um residencial para idosos em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. O Sênior Living by Housi vai permitir que familiares consigam acompanhar em tempo real as atividades do morador, além de contar com profissionais de saúde in loco e espaços para relaxamento e bem-estar.

Com 400 unidades de 27 m² a 85 m² e um VGV de R$ 400 milhões, o custo inicial do pacote com aluguel em condomínio deve ser de cerca de R$ 10 mil. O preço médio das unidades menores para venda está avaliado em aproximadamente R$ 1 milhão. Outros dois projetos já estão em desenvolvimento para o ano que vem nos bairros de Perdizes e Jardins.

“Buscamos alcançar quem quer viver plenamente, sem se preocupar com questões de segurança ou cuidados que não deveriam recair sobre os familiares, e sim ser parte de uma estrutura funcional e economicamente viável”, diz Alexandre Frankel, CEO da Housi.

Para ele, a maior vantagem e o maior desafio deste tipo de produto é romper paradigmas culturais. “Como nunca houve algo semelhante no Brasil, e considerando que esse público possui uma base financeira mais estável e uma demanda crescente, temos uma oportunidade única de lançar um produto com alto potencial de valorização e aderência”, acrescenta.


Fonte: Estadão