Hotelaria teve ótimo desempenho em 2024
Mas a taxa SELIC elevada que desestimula novos investimentos e os riscos do fim precoce do PERSE podem impactar de forma negativa o setor nesse ano
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O setor de hospedagem no Brasil experimentou em 2024 uma forte recuperação após os impactos da pandemia de COVID-19. A recuperação plena da malha aérea teve papel fundamental, pois em 2024, mais de 118 milhões de passageiros utilizaram o avião para viajar no Brasil. Na comparação com 2022, quando 97,7 milhões de passageiros tinham escolhido o modal para se deslocar no País, o número representa a inserção de mais de 20 milhões de pessoas na aviação civil, nos últimos dois anos. Com isso, a ocupação hoteleira alcançou níveis próximos aos de 2019, com uma retomada significativa do turismo de lazer e negócios. Vários fatores influenciaram essa retomada, pois ainda havia demanda reprimida de viagem. O turismo de lazer e aventura sobressaiu, pois o comportamento do consumidor mudou muito no pós-pandemia. O turismo doméstico, especialmente o de lazer, foi um dos grandes motores do setor influenciados por praias, cidades históricas e ecoturismo. O comportamento do consumidor também evidenciou maior interesse por viagens de curta duração e experiências ao ar livre.
Na hotelaria independente a demanda foi impulsionada por experiências personalizadas, maior flexibilidade e o desejo por turismo de nicho. O crescimento foi mais notável em destinos alternativos e regionais, onde a diferenciação e o apelo local são mais valorizados. O crescimento das redes internacionais aconteceu nas grandes cidades e destinos turísticos mais tradicionais, onde elas têm forte presença e oferecem um padrão de serviços e confiança que atrai tanto turistas estrangeiros quanto brasileiros. Os resorts no Brasil também atraíram um bom público que procurava experiências de luxo e de bem-estar.
Personalização das ofertas e experiências
Essa ferramenta se tornou uma estratégia importante para fidelizar clientes e criar diferenciação. A segmentação do mercado hoteleiro no Brasil em 2024 foi mais evidenciada, com diferentes tipos de hotéis atendendo a públicos específicos, como o turismo de luxo, o de negócios e o MICE - Meetings, Incentives, Conventions, Exhibitions. Apesar da recuperação, o setor hoteleiro enfrentou desafios econômicos, como a inflação, o aumento de custos operacionais e a instabilidade econômica. Como não existe um órgão público e ou privado centralizador de dados e informações contemplando todo o setor, estima-se que a taxa de ocupação média para hotéis independentes tenha ficado em torno de 60% a 70%. E um bom exemplo aconteceu na hotelaria de Salvador, que fechou o ano de 2024 com uma ocupação média de 64,15%, superior à observada no ano anterior (61,19%) e no período pré-pandemia (62,49% em 2019). A diária média ficou em R$ 643,11, bem acima da de 2023 (R$ 543,22), o que garantiu um Revpar (indicador utilizado na hotelaria que expressa a evolução da ocupação e diária) de R$412,53. Da mesma forma, a diária média de dezembro de 2024 (R$ 752,72) ficou 15,5% acima da de dezembro de 2023 (R$ 651,75). Se retirarmos da amostra os hotéis de luxo, chega-se a uma diária de R$ 558,58 para esse último mês de 2024. Os hotéis de lazer tiveram melhor desempenho do que os corporativos neste último mês do ano, com destaque para o polo de Itapuã-Stella Maris (77,71% de ocupação), seguido por Barra-Ondina (76,31%) e Pituba-Tancredo Neves (58,59%).
Multipropriedade
E quanto a multipropriedade, o principal modelo de investimentos para ampliação do parque hoteleiro no Brasil, como foi o comportamento em 2024 e a expectativa para os próximos anos? O Consultor Marino Neto lembra que o modelo de multipropriedade traz o benefício de não ser um ativo de investimento, mas de lazer, para uso. Então os juros altos não serão desestímulos ao crescimento de ativos no setor. Já para o Consultor Caio Calfat, que também é Presidente do Conselho da ADIT Brasil - Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil, a multipropriedade em 2024 foi muito bem. Continua com crescimento acima do normal do desenvolvimento imobiliário.
“No nosso escritório temos feito vários trabalhos que envolvem multipropriedade de alto padrão, uma vez ou outra, envolvendo inclusive, outros equipamentos, como a multipropriedade de alto padrão com helicóptero, as vezes junto com uma lancha ou um iate, às vezes, em outros casos, com aeronaves, também tudo compartilhado. Isso tem aumentado, embora seja bem pontual. Mas no geral aumentou bastante, nós vamos ver no próximo relatório que a gente fizer, um aumento nos valores de vendas da multipropriedade por causa de aumento do padrão principalmente, então continua o crescimento. Em relação a 2025 a expectativa é aprimorar mais ainda e continuar na mesma toada que vem tendo especialmente depois da pandemia, aumentar o número de destinos novos, aumentar o número de empreendimentos e lançamentos novos e também esses produtos especiais que citei para você com outros equipamentos juntos", prevê Calfat.
Sua expectativa é que no próximo estudo do cenário da multipropriedade a ser divulgado durante o ADIT Share no mês de maio, deverá atingir algo como 100 projetos. "Eles estão espalhados em regiões com atividades turísticas intensas, tipo praia, montanha, beira de rio, beira de lago, beira de represas, campo, regiões bonitas no meio do campo", destaca Calfat.
Ele conclui dizendo que: "A Multipropriedade vai continuar vendendo como ela é vendida até hoje. Mas existem novas ferramentas financeiras que estão surgindo no mercado e que podem se consolidar como alternativas a esses outros modelos investimentos ou financiamentos. Isso se deve em razão da credibilidade que o setor vem recebendo em função da aprovação dos compradores sobre aquele produto.
Sempre lembrando que a multipropriedade não é um produto de investimento. Ela é vendida para usuário, para moradores, para a família que quer passar férias, como é vendida, por exemplo, uma segunda habitação em qualquer lugar, qualquer destino turístico do mundo, é à mesma coisa. Mas que vai ter outras linhas de crédito, aparentemente sim, vamos ter sim. Existem movimentos nesse sentido. Tanto por meio dos fundos, quanto por meio dos grandes bancos que estão pensando finalmente em criar modelos de financiamento para multipropriedade. Vamos ver, quem viver verá!".
Fonte: Revista Hotéis