A Voz do Paraná | ADIT apresenta tendência sobre multipropriedade no Brasil

Caio Calfat, presidente da ADIT Brasil

Comprar imóveis de forma compartilhada e usufruir deles em diferentes destinos. Essa é a ideia da multipropriedade, um modelo de negócios que surgiu nos Estados Unidos da América há décadas e vem ganhando força no Brasil. O sistema permite que investidores adquiram uma ou mais cotas de um imóvel e dividam o uso e os custos com outros coproprietários. Além disso, os cotistas podem escolher entre se hospedar, alugar ou trocar seu imóvel com propriedades em outras localidades.

O crescimento contínuo dessa indústria mostra sua maturidade, como aponta o estudo mercadológico “Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedades no Brasil”. A edição 2023, que foi lançada na quarta-feira (17), revelam números acima do esperado, como o aumento de 43,3% do Valor Geral de Vendas (VGV) potencial, um dos principais indicadores do segmento. O setor também celebra a alta de 15,4% na oferta de empreendimentos que operam neste modelo no país, passando de 156, em 2022, para 180, em 2023.

A pesquisa se baseia em dados da Caio Calfat Real Estate Consulting, uma das maiores referências do segmento na América Latina, e em consultas aos agentes do setor. Das 180 multipropriedades mapeadas, 97 estão prontas, 69 em construção e 14 em fase de lançamento. As regiões Sul e Nordeste lideram a oferta com, respectivamente, 54 e 51 multipropriedades. Em seguida vêm o Sudeste (43), Centro-Oeste (26) e Norte (6).

Os dados retratam a história do setor de multipropriedades. Porém, a base de análise financeira e de tendências do relatório considerou o mercado corrente nacional, que é formado por projetos que estão prontos há menos de cinco anos e/ou possuem estoque de cotas inferior a 95%. Esse universo é composto por 104 os empreendimentos que se encaixam nesse cenário (sendo 50 imóveis em construção, 41 prontos e 13 em lançamento), queda de 9,6% na comparação com os 115 registrados em 2022.

Em entrevista exclusiva ao jornal A Voz do Paraná, o presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (ADIT), Caio Calfat, falou sobre o conceito, a dinâmica e as perspectivas da multipropriedade no país. Segundo ele, esse modelo de negócio permite que várias pessoas sejam proprietárias de um mesmo imóvel, cada uma com uma fração de tempo para usar e desfrutar do bem com exclusividade.

Sobre o turismo e o aquecimento econômico do Paraná, Caio Calfat afirmou que Foz do Iguaçu é o maior polo do turismo no Estado e um dos principais destinos do Brasil, com atrativos únicos no mundo. Ele disse que o litoral paranaense tem potencial para o turismo ecológico e que o interior começa a ter alguns destinos despontando entre os demais, principalmente entre os destinos com vinícolas. Ele também apontou a necessidade de melhorar a malha aérea brasileira para aumentar o fluxo de turistas internacionais.

Calfat também deixou uma mensagem para os empreendedores imobiliários que querem desenvolver multipropriedades no Paraná e no Brasil. “Estudem esse modelo de empreendimentos. Os grandes empreendedores são aqueles empreendedores locais que desenvolvem a multipropriedade nos seus locais. Isso acontece no Brasil inteiro. É um mercado que tem muito mais a crescer”. Ele informou que o Paraná está entre os cinco estados que mais desenvolveram multipropriedades no Brasil, com sete empreendimentos já prontos ou em venda.

ADIT Share

O evento é uma oportunidade única para debater, trocar experiências e ampliar o networking com autoridades nacionais e internacionais.

O Share reúne, anualmente, os principais players dessa forte indústria para apresentar as tendências, debater ideias e trocar experiências acerca dos componentes que envolvem o Timeshare e a Multipropriedade.

O Seminário surgiu a partir do desenvolvimento intenso desta indústria no país. Os números bilionários e a profissionalização do setor chamam a atenção de players de todo o país para este modelo de negócio que está absolutamente alinhado à economia compartilhada.

 

Leia, a seguir, a íntegra da entrevista:

Jornal A Voz do Paraná: O que é a ADIT Brasil e o ADIT Share?

Caio Calfat: A ADIT Brasil é uma entidade nacional que fundamos em 2006, na época como ADIT Nordeste, como uma entidade setorial que desenvolvia trabalhos para o mercado imobiliário turístico brasileiro. Foi nesse período que os estrangeiros começaram a entrar no Brasil por essa via e investiram em grandes áreas para empreender no setor do turismo. Eram grupos italianos, franceses, ingleses, espanhóis, noruegueses, entre outros. Esse cenário acabou abruptamente em 2008 com o estouro da bolha imobiliária, e foi nesse momento que a ADIT teve que se reinventar de duas formas: a primeira abrangendo outros setores que não fossem apenas o imobiliário turístico, e a segunda forma foi nacionalizar a entidade, deixando de ser exclusivamente nordestina para se tornar uma entidade brasileira. Nos últimos anos, temos obtido grande sucesso nos seis temas que envolvem nossos principais eventos: o ADIT Share, que estamos promovendo, o ADIT Invest, que promovemos todos os anos em agosto, o ADIT Hotel, o ADIT Arq, o ADIT Complan e o ADIT Juris. Portanto, são esses seis grandes eventos que promovemos anualmente. Além disso, temos realizado missões técnicas aqui no Brasil e no exterior. Isso demonstra que a ADIT é uma entidade que atua em todas as áreas do setor imobiliário e abrange todo o território brasileiro. Temos associados em 22 estados, totalizando cerca de 400 associados, e esperamos ingressar com mais de 1000 associados no próximo ano. Esse é o perfil da ADIT, uma entidade jovem que já possui grande importância no cenário nacional, produzindo eventos, livros, material didático, networking de alta qualidade e conteúdo.

 

Jornal A Voz do Paraná: Qual é a importância da troca de experiências que acontece no ADIT Share, levando em consideração o momento que o País vive?

Caio Calfat: Nós temos um país continental, não só culturalmente, mas também nas dificuldades que cada região enfrenta. Um empreendedor de Belém do Pará, por exemplo, enfrenta dificuldades que um empreendedor do Rio Grande do Sul não enfrentará. Portanto, apesar de ser um mercado novo, desenvolvemos a Lei de Multipropriedade na vice-presidência do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais (Secovi), na qual já represento há seis mandatos. Posteriormente, elaboramos um manual de melhores práticas para a correta implementação da Lei de Multipropriedade, contando com a participação desses empreendedores de todo o Brasil, cada região culturalmente com suas dificuldades e problemas específicos. Todas essas dificuldades foram apresentadas e transformadas em pontos da lei e do manual de melhores práticas, resultando em um setor mais organizado. Essa organização ajudou a manter o setor saudável ao longo desses 13 anos, apesar de termos enfrentado três grandes crises: a superoferta de hotéis para a Copa do Mundo, a crise do desaquecimento econômico durante o governo Dilma e a pandemia da Covid-19. Essas três crises foram muito danosas para o setor, levando ao fechamento de cerca de 190 mil empresas na cadeia do turismo brasileiro. No entanto, a situação não foi pior porque o setor se uniu e conseguiu medidas, inclusive no Congresso Nacional, para melhorar o desempenho do setor. Durante esses 13 anos, vivemos 7 anos em crise, ou seja, mais da metade do tempo em que o mercado existe o país passou por crises. No entanto, isso não impediu o crescimento significativo da multipropriedade.

 

Jornal A Voz do Paraná: Qual é o segredo para a as multipropriedades e a ADIT seguirem crescendo no Brasil?

Caio Calfat: A ADIT tem se mantido muito bem ao longo desses anos, pois depende das contribuições associativas. Ou seja, todas as nossas receitas provêm das mensalidades dos associados ou dos recursos gerados por eventos, missões técnicas, material didático e tudo o que produzimos. Graças a Deus, durante a pandemia, não tivemos grandes perdas de associados. Pelo contrário, conquistamos de 15 a 20 novos sócios todos os meses. Isso se deve à qualidade de tudo o que produzimos e à competência da nossa equipe executiva. A ADIT tem sobrevivido muito bem ao longo desses anos, superando algumas crises que foram bastante desafiadoras para o Brasil e para a ADIT. A multipropriedade, de certa forma, é uma incógnita, pois se trata de um produto de lazer e não uma necessidade primária. No entanto, ela tem se mantido muito bem, pois as principais motivações de compra são as seguintes: a possibilidade de gastar menos na aquisição de um imóvel, especialmente de um padrão superior ao que o comprador teria acesso de outra forma; o fato de as despesas serem divididas entre todos os proprietários, pagando apenas pelo período de uso e não durante todo o ano; a tranquilidade de ter uma rede hoteleira cuidando do imóvel, sem se preocupar com questões de caseiro e outras responsabilidades; a existência de uma empresa que permite intercâmbio, permitindo a troca da semana de uso por semanas de férias em todo o mundo; e, por fim, a possibilidade de vender, alugar, hipotecar ou fazer o que desejar com a fração imobiliária, o que é muito importante para os brasileiros, pois proporciona a segurança de possuir um imóvel. Essas são as justificativas. Agora, explicar como a multipropriedade cresceu tanto, inclusive durante a pandemia, foi uma surpresa até para nós, já que o mercado ainda não está consolidado. A cada ano, percebemos que passamos por crises e o setor permanece estável, seguro e em crescimento. É claro que enfrentamos alguns problemas, mas eles são variáveis que todos os setores têm.

 

Jornal A Voz do Paraná: Como você analisa o turismo e o aquecimento econômico do Paraná?

Caio Calfat: Muito bom. O Paraná como um todo, especialmente Foz do Iguaçu, se recuperou da pandemia. Percebemos que, há 100 anos, quem vinha para o Brasil visitava apenas três lugares: Rio de Janeiro, Amazônia e Foz do Iguaçu. Isso era o que as agências de viagem na Europa, Ásia e em todo o mundo promoviam. Parecia que o Brasil não tinha mais nada além desses três destinos. No entanto, Foz do Iguaçu passou por um período ruim, talvez devido a má administração, mas hoje já se recuperou muito bem. Além disso, ampliou a permanência média do turista no município, que antes era de dois dias e agora é de quatro a cinco dias. Antes, os visitantes chegavam em Foz do Iguaçu na sexta à tarde e, no domingo, já tinham feito tudo o que tinham para fazer. Hoje em dia, a situação é bem diferente, graças à Zona Franca de Foz do Iguaçu, aos novos atrativos e, para mim, o principal destaque do turismo no Paraná continuará sendo Foz do Iguaçu, por ser um destino único no mundo. O litoral paranaense, pouco explorado, apresenta aspectos de Mata Atlântica e turismo ecológico, mas precisa ser melhor explorado. Na parte do interior, alguns destinos começam a se destacar, principalmente aqueles com vinícolas. Poucas pessoas sabem, mas temos 16 regiões vinícolas no país, e o Paraná não fica para trás. Portanto, temos bons destinos saindo de Curitiba que são interessantes para desenvolver o aspecto turístico do Estado.

 

Jornal A Voz do Paraná: Na sua visão, Foz do Iguaçu é o maior polo do turismo no Paraná. O setor aéreo corresponde às expectativas?

Caio Calfat: Precisa melhorar muito nesse aspecto. Na questão da malha aérea brasileira, sempre foi complicado. Houve melhorias, mas ainda temos muito a avançar. É uma equação difícil de resolver, pois, de um lado, temos as companhias aéreas que muitas vezes não possuem passageiros suficientes e, por outro lado, há passageiros que desejam utilizar determinadas rotas, mas não são em número suficiente para viabilizar a operação da companhia. Isso ocorre não apenas no Paraná, mas em todo o Brasil, e talvez seja o que impede o avanço na média anual de turistas internacionais, que não ultrapassa os seis milhões por ano.

 

Jornal A Voz do Paraná: O que você diria ao investidor de multipropriedade?

Caio Calfat: Eu não gosto muito de usar o termo "investidor de multipropriedade", prefiro "empreendedor", porque a multipropriedade não se trata apenas de investir, mas também de ser o morador final, alguém que utiliza o imóvel com sua família como uma segunda residência. A compra é feita para uso pessoal, não apenas para investimento. Embora seja um investimento por se tratar de um produto imobiliário, o foco da venda não é exclusivamente para investimento, mas sim para uso pessoal. O empreendedor imobiliário tem todo o país para desenvolver. Em 14 ou 15 anos, nós já administramos projetos em 14 cidades do país, sendo que mais da metade desses destinos são desconhecidos pelo grande público. São destinos regionais que estão desenvolvendo seus projetos mesmo assim. Imagine quando esse produto estiver mais maduro e consolidado, durante um período de maior crescimento. Ele pode se tornar a principal alavanca do turismo no Brasil, gerando empregos no setor. Nenhum outro tipo de empreendimento turístico no Brasil cresceu tanto, tão rápido e em um período tão improvável como nos últimos 14 anos. Portanto, a mensagem que deixo para eles é que estudem esse modelo de empreendimento. Muitas vezes, os grandes empreendedores são os locais que desenvolvem a multipropriedade em suas regiões. Isso ocorre em todo o Brasil. Os principais desenvolvedores de multipropriedades locais são os empreendedores da região: em Goiânia são os goianienses, no Rio de Janeiro são os cariocas e fluminenses, no Paraná são os paranaenses, e assim por diante.   

 

Jornal A Voz do Paraná: Qual a perspectiva do modelo de empreendimentos no Paraná?

Caio Calfat: O Estado do Paraná está entre os cinco que mais desenvolveram multipropriedade no Brasil. Temos o Rio Grande do Sul, com 18 empreendimentos, São Paulo com 17 empreendimentos, Goiás com 16 empreendimentos, Bahia com oito empreendimentos e o Paraná com sete empreendimentos. Isso não é pouco, ser o quinto estado com o maior número de empreendimentos que já estão à venda e prontos. É um mercado que tem muito mais a crescer, assim como já cresceu até agora, podendo até ultrapassar a Bahia.

Fonte: Jornal A Voz do Paraná