Multipropriedade chega ao alto padrão nas serras

Destinos de inverno famosos no país estão ganhando empreendimentos sofisticados com serviço de hotelaria cinco estrelas e cotas de R$ 1 milhão

 

Em Canela (RS), a marca hoteleira alemã Kempinski faz a sua estreia na América do Sul no formato multipropriedade, com retrofit do hotel Laje de Pedra e apartamento vendido a R$ 11,5 milhões - Foto: CANELA EMPREENDIMENTOS/DIVULGAÇÃO

 

O mercado de multipropriedade em estâncias turísticas de inverno está ganhando um “upgrade” de categoria. Destinos como Gramado e Canela (RS), Campos do Jordão (SP) e Pedra Azul (ES) têm novos e sofisticados projetos imobiliários com arquitetura assinada e ambientes internos repletos de conforto. O objetivo é conquistar o público de alta renda, ainda avesso à modalidade.

Em meio a um bosque urbano de 36 mil metros quadrados, o condomínio Own Time Home Club, em Gramado, terá 24 casas e 40 apartamentos de inspiração contemporânea, apoiados por um clube de lazer completo. O projeto é do arquiteto Jeferson Zatti e do engenheiro Ricardo Peccin, com design de interiores de Fernanda Ruppenthal e paisagismo de Betina Peccin.

“Como gramadenses natos, sentíamos necessidade de melhorar a qualidade dos produtos imobiliários oferecidos na cidade”, conta Jeferson Braga, CEO da incorporadora OwnerInc., responsável pelo empreendimento.

Cada residência poderá ser compartilhada por até 26 proprietários, que terão direito, cada um, de uso de duas semanas por ano, intercambiáveis. A administração ficará a cargo do grupo ICH, dono dos hotéis Intercity. Os valores das cotas variam: nas casas maiores, de 448 metros quadrados e quatro suítes, partem de R$ 600 mil.

A decoração buscou traduzir uma experiência de moradia local com os serviços de hotelaria do tradicional grupo Casa Hotéis: café da manhã, camareira, personal chef e concierge.

 

Em meio a um bosque urbano no centro de Gramado (RS), a OwnerInc. lança um condomínio exclusivo, com centro de lazer completo e serviços de hospitalidade do grupo Casa Hotéis: foco no público de alta renda que visita a cidade — Foto: OWNERINC./DIVULGAÇÃO

 

“Gramado está se sofisticando, e o empreendimento reflete esse momento. Além disso, o modelo é mais flexível e sustentável e oferece muito mais, por um valor menor”, diz Braga. O Own Time tem VGV de R$ 500 milhões e previsão de entrega para dezembro de 2025.

CINCO ESTRELAS

Outro projeto para o público “upscale” em desenvolvimento é liderado pela LPD Canela Empreendimentos e Participações, que tem a bandeira hoteleira de luxo alemã Kempinski. A marca está reformando o antigo hotel Laje de Pedra, em Canela, que será reaberto em 2026 com 128 apartamentos ambientados por Patricia Anastassiadis.

Há duas maneiras de adquirir os imóveis: a compra fracionada (mínimo de seis semanas, a R$ 450 mil) ou integral. As unidades variam de 52 a 216 metros quadrados — as maiores são do hotel original. A última delas com vista para o Vale do Quilombo foi vendida para um único dono, por R$ 11,5 milhões.

“Pessoas de alta renda já entenderam que esse modelo de investimento é mais racional e pode ser adequado a seu padrão de vida”, avalia Cezar Haik, diretor Comercial do Laje de Pedra. As residências só serão disponibilizadas para locação em “pool” sob gestão da própria Kempinski. As semanas de uso poderão ser trocadas por estadias em propriedades de uma empresa intercambiadora dos Estados Unidos.

 

No Laghetto Château, as 56 suítes já foram vendidas para compartilhamento: R$ 95 mil por uma semana/ano de uso com toda a infraestrutura de um hotel-butique — Foto: LAGHETTO/DIVULGAÇÃO

 

O projeto inclui ainda expansão em duas fases, com apartamentos assinados pelo escritório Perkins & Will. “É um empreendimento irreplicável em um hotel com legado histórico, vista permanente para o parque e serviços de uma marca internacional”, define Haik.

Em sistema semelhante, a rede hoteleira Laghetto abriu há um ano o Laghetto Château, em Gramado. As 56 suítes decoradas e equipadas foram todas vendidas em cotas de R$ 95 mil por uma semana/ano de uso. Lá, o grande charme é o deque com vista para o Vale do Quilombo.

“Muitos clientes já buscavam produtos à altura do seu bolso e não encontravam. Isso influenciou nossa decisão de fazer um projeto mais requintado”, relata Ênio Almeida, CEO do grupo.

OUTROS DESTINOS

Além da Serra Gaúcha, outros destinos de inverno vêm ganhando propriedades de alto padrão para compartilhamento, com serviços “pay-per-use” e concierge. No Espírito Santo, a incorporadora FlexU Houses apresentou um portfólio de propriedades nas montanhas de Pedra Azul e Domingos Martins. As residências serão divididas em quatro cotas, e cada dono terá direito a três meses por ano. As casas terão boxes individuais com pertences de cada proprietário para tornar a experiência mais pessoal.

 

Fachada do Wanderlust, hotel de multipropriedade na Serra da Mantiqueira (SP): 94% vendido — Foto: INVITE INC./DIVULGAÇÃO

 

Em Campos do Jordão (SP), a empresa My Door tem três residências nesse modelo de negócio. O valor para 44 dias de uso varia de R$ 185 mil a R$ 1 milhão. “A estadia é prepara da ao gosto do cliente: da arrumação dos quartos às flores nos vasos. A ideia é dar a sensação de proprietário ao cotista”, diz Roberto Pinheiro, CEO da My Door.

A incorporadora Invite também tem dois projetos entregues nessa categoria na cidade paulista: o resort Wanderlust, com 77 quartos; e o butique Carpe Diem, com 25. As frações giram entre R$ 41 mil e R$ 281 mil.

Para Caio Calfat, fundador da consultoria imobiliária que leva seu nome, os destinos de inverno tendem a atrair turistas com poder aquisitivo maior, o que reflete na demanda por sofisticação das multipropriedades.

“Esse comprador gosta de personalizar sua segunda residência com o mesmo conforto da primeira”, analisa, lembrando que o próprio modelo de fração surgiu nas estações de esqui dos Estados Unidos. “Eram casas na montanha, customizadas por marcas hoteleiras de luxo para convencer o cliente rico a aceitar a multipropriedade.”

Fonte: Valor Econômico